terça-feira, 14 de maio de 2013

A Matemática


"O MEU FILHO embirrava com a matemática e ficava maldisposto só de ver uma conta. 
O colapso deu-se quando lhe explicaram as classes e as ordens de números infindáveis que ninguém, a não ser que esteja no ensino básico, sabe pronunciar. O rapaz andava enjoado, como se tivesse sido obrigado a viabilizar o Orçamento.
Olhando com atenção, conseguia vislumbrar-se uma nuvem de números em cima da sua cabeça. Ridículo. 
Um dia resolveu reagir e, seguindo uma estratégia clássica, a da compensação, anunciou que a sua vocação é Letras. Substituiu o fracasso pelo sucesso que tem conseguido com os verbos, a gramática, o desenho da letra e essas coisas. 
Desembaraçou-se dos números e abraçou as letras, por assim dizer. 
Mas esqueceu-se de um pormenor: de mim. 
Eu - uma mãe perspicaz, atenta aos sinais e que, está mais que visto, nunca devia ter abandonado a matemática - neguei-lhe a pretensão. Expliquei-lhe que ele gostava de matemática, que o único problema entre ele e a matemática é que ainda não sabia que gostava, assim como ainda não sabe que gosta de cerveja. Antes de mais tinha de perceber, de saber do assunto para saber se gosta. 
O rapaz demorou dois minutos a cair novamente em depressão. A matéria avançou para as contas de dividir com dois números e ele exigiu uma explicação. Não lhe dei, não sei dar explicações, e disse-lhe que fosse pedir à professora. Frustrado, esforçou-se. Ontem chegou a casa e disse: "Sabe bem acertar nas contas. Afinal gosto de matemática."

É isto a matemática: sabe bem ter razão."

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